I know not what tomorrow will bring.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Fotos - ensaio - nosso banqueiro






O Banqueiro por Edvard Vasconcellos

- Meu amigo, eu já lho disse, já lho provei, e agora repito-lho... A diferença é só esta:
eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas
místicos, e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista
que combate e liberta... Em uma palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou
anarquista.
E levantamos-nos da mesa.

O "Banqueiro anarquista", em cartaz no Teatro Serrador é um conto, com ares de filosofia com estrutura estática platônica, escrita pelo gênio da literatura portuguesa Fernando Pessoa, transposto para o teatro com grande habilidade pelo Fernando Lopes Lima, o Fernandão. Uma grande ironia do Pessoa, que cria um diálogo situado em um ambiente desembaraçado num destes clubes tradicionais, costumeiramente alheios aos debates intelectuais ou políticos. Depois de um jantar, um banqueiro rico emaranha, com o seu raciocínio complexo e paradoxal, um ingênuo e servil interlocutor. A partir daí, o que se vê é uma lição iconoclasta e de extrema ironia sobre o que este banqueiro julga ser o verdadeiro anarquismo, do qual se declara inventor e partidário fervoroso. A peça é ótima, José Karine, tem um domínio meticuloso das palavras, controlando a ironia, o humor, conduzindo o público com maestria. Peter Boos e Raphael Manheimer, o seguem de perto com registros bem diferentes. O cenário, a luz, a trilha e a duração seguem o tom equilibrado que a direção imprimiu. O Banqueiro Anarquista é um tratado didático sobre filosofia política, disfarçado de teatro, habilmente dirigido. Merecemos vê-la em cartaz por mais tempo.

terça-feira, 26 de março de 2013

Por Rafael Tom Luz - no Facebook

Pensei em indicar as próximas encenações de "O banqueiro anarquista" – em cartaz somente hoje e amanhã (26 e 27 de março), às 19 horas no Teatro Serrador – aos que estão estudando Literatura portuguesa moderna neste semestre, porém correria o risco de estar dando uma ótima sugestão àqueles que não gostam muito de ler, mas ainda assim cursam as faculdades de Letras. Outro grande problema nesse pen...samento é que o espetáculo, na verdade, deve ser indicado para todos (e, prioritariamente, a todos os que amam o teatro), pois é a grande oportunidade para ver o conto de Fernando Pessoa ganhar vida e dar várias lições de vida. O heterônimo Alberto Caeiro (Peter Boos) aparece para apresentar seu amigo banqueiro (José Karini), “grande comerciante e açambarcador notável”, um homem de sensível tenacidade, capaz de esmiuçar a reflexão através de muitos argumentos, um prodígio da antiga escola retórica. Nesse momento, você, se estiver na plateia, também será convidado a tomar parte nessa genial conversação de Fernando Pessoa consigo mesmo.
Não estou menosprezando a grande capacidade imaginativa do ser humano, porém dificilmente você fará uma leitura tão aprimorada quanto a que está sendo encenada lá. A atuação de José Karini consegue ultrapassar o impecável, dá uma verdadeira aula de como se lê (e se vê) o banqueiro anarquista. Por um lado, mostra-se exemplar aluno da criação dramática de Fernando Lopes Lima, que (como se não bastasse sua longa pesquisa e paixão pela história) foi auxiliado pelas análises teóricas de Guto Beluco e Filipe Ceppas; por outro, José Karini exibe toda sua maturidade artística na composição do banqueiro, qualidade imprescindível para o personagem, com todo o fôlego e pausas necessários para conduzir a complexa argumentação de como este banqueiro é mais anarquista do que os “do tipo dos sindicatos e das bombas”.
Se você for alguém suficientemente humilde, talvez tenha certo medo (e prudência) de ter de enfrentar o astuto banqueiro anarquista numa conversação. Isso é bastante prudente, mas você pode ficar mais do que tranquilo, pois Peter Boos estará lá para encarnar o narrador-mediador do conto, de modo que todos ficarão bem à vontade para se deliciarem com a conversa informal regada a vinho. Talvez você, se for uma pessoa tão chata quanto eu, ficará se questionando o porquê da escolha de Alberto Caeiro para nortear o personagem-narrador (já que ele morreu em 1915, e o conto é de 1922), porém basta você olhar para a atuação de Rafael Mannheimer, ao fundo, e você irá entender que, da mesma forma como Caeiro morreu, poderia ressucitar. Assim como o personagem de Mannheimer é ao mesmo tempo Álvaro de Campos e Fernando Pessoa, os outros dois também o são.

Além disso, a fruição teatral é da mais alta qualidade e refinamento. Várias mãos invisíveis passam pelo espetáculo, mãos que proporcionarão à sua ida ao Teatro Serrador uma vivência tanto ou mais proveitosa do que a leitura do texto, uma experiência filosófica, dramática e recheada de ironias que somente grandes momentos de reflexão são capazes de oferecer. A iluminação de Aurelio de Simoni, mais uma vez marcante pela maestria de composições com texturas de branco e sombra, aguça toda a potencialidade da peça. A inusitada criação de Marcos Saboya no cenário (feito em conjunto com Thais Zilberberg), é uma pequena instalação chamada "127 Pessoas" e, de certo modo, também é uma pequena amostra de sua criação aMAZEme, que representou o Brasil em Londres no ano passado, mas um pequeno gigante, uma concepção precisa ao espetáculo. Fernando Lopes Lima consegue fazer com que a Sala Brigitte Blair fale com o espectador e o espetáculo. A encenação de “O banqueiro anarquista” é uma escandalosa evidência da profunda intimidade do dramaturgo com sua residência artística.
Imagino que, num breve futuro, as pessoas irão abrir seus ebooks para ler esse conto e haverá as opções para ouvi-lo em audiobook e a de ver a peça. Porém, se você não quiser esperar até lá, é melhor ir conferir pessoalmente.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Against Me! - Baby I'm An Anarchist

Tradução:

Baby, Eu Sou Um Anarquista

Através dos melhores momentos,
Através dos piores momentos,
Através de Nixon e de Bush,
Você lembra de 1936?
Quando seguimos nossos caminhos separados.
Você lutou por Stalin
Eu lutei por liberdade
Você acreditava na autoridade
Eu acreditava em mim mesmo
Eu era um coquetel Molotov
Você era Dom Perignon
Baby, o que é esse olhar tão confuso em seus olhos?
O que estou tentando dizer é que
Eu queimava edificios
Enquanto você Sentava em uma prateleira dentro deles
Você avisava a policia
Sobre os saqueadores e os atiradores de tortas
Eles chamam isso de guerra de classes
Eu chamo de conspiradores


Porque Baby, eu sou um anarquista,
Você é uma covarde liberal
Nós marchamos juntos pela jornada de 8 horas
E de mãos dadas pelas ruas de Seattle
Mas quando chegou a hora de jogar tijolos
Nas janelas da Starbucks
Você me deixou sozinho


Você olhava com admiração o vermelho,
O branco e o azul do 4 de julho
Enquanto os fogos de artificio explodiam
Eu estava ficando louco
E amarrando minha bandeira negra no alto
Comendo os amendoins
Que as partes tinham jogado em você
No banco de trás do novo Ford de seu pai
Você acredita na votação
Acredita na reforma
Você tem fé no elefante e no jackass,
E para você,solidariedade é uma palavra de quatro letras
Todos somos hipocritas,
Mas você é uma patriota
Você achou que eu estava brincando
Quando eu gritava "kill Whitey!"
Com todos os meus pulmões
Aos policias em seus carros
E aos homens de terno
Não, eu não vou pegar sua mão
E casar com o estado


Porque Baby, eu sou um anarquista,
Você é uma covarde liberal
Nós marchamos juntos pela jornada de 8 horas
E de mãos dadas pelas ruas de Seattle
Mas quando chegou a hora de jogar tijolos
Nas janelas da Starbucks
Você me deixou sozinho



terça-feira, 12 de março de 2013

O Banqueiro Anaquista 25, 26 e 27 de Março

São meses preparando um trabalho, com tranquilidade, com parceiros que tornam possível está tranquilidade. Existem mutas formas de se montar um peça teatral, inumeráveis maneiras. Com diretores mais exigentes, as vezes mais rígidos, mais intelectuais, mais cheios da mais legitima certeza, com formas, estilos e todos os tipos de jeitos e maneiras. Eu, sempre estive na busca pelo entendimento das partas, das relações, transformando o ambiente de trabalho em lugar de acolhimento, para criar junto, nunca só. Fazer teatro já é tão difícil porque piorar tudo se podemos melhorar, digo isso baseado num tipo de troço que existe por ai, ou que vivi nos últimos anos, tudo sempre tão cheio de verdades, tão cheio de si, ao ponto de se tornar um centro, ai todo o resto fica entorno do sol, esse tipo de relação já não me interessa mais. Prefiro poder olhar para o ator diretamente, sem me sentir ameaçado, nem me tornando ameaçador, isso é próprio dos intelectuais da arte, que conseguem esticar o pescoço mais alto que os outros, eu não sirvo neste tipo.
Criar é libertar-se. Hoje, chegando perto da estreia de O Banqueiro, depois de viver um processo tão divertido, profundo, maduro, tranquilo, delicado e refinado, não há mais, em mim, a possibilidade de aceitar o que não for isso. O que não for junto, o que não for coletivo, o que não for libertador. Pelo menos não mais ainda. Eu não sou coerente. Quero criar, apresentar o Banqueiro e depois abrir as correntes e, como cada um tem libertar a si próprio, eu me libertarei. Libertarei a mim, compreende? "Cada um tem que libertar a si próprio"